Essa história está registrada no salmo 73 da Bíblia Sagrada. Ela possui quatro capítulos fascinantes e tem como protagonista um homem chamado Asafe. Este Asafe tinha como profissão cuidar da música que as pessoas cantavam na igreja. Ele era um músico excepcional e se esmerava em tocar, ensinar e reger durante os cultos. Também era um compositor extraordinário. A presença de Asafe na igreja era sinal de arte, sensibilidade e arrebatadora espiritualidade no louvor ao Senhor. Em I Crônicas 25 vemos que Asafe já tinha filhos músicos que prestavam serviço no Templo. Provavelmente já deveria ser homem maduro quando escreveu este salmo.
E este salmo revela uma humanidade incrível – somos nós mesmos!
Todas nossas dúvidas existenciais estão ali... E não só as nossas! Muitas pessoas, cristãos ou não, questionam a existência de Deus quando perguntam: “Se Deus existe e é bom, porque permite tanto sofrimento no mundo?”
Como qualquer pessoa antenada com o seu tempo, o nosso personagem também conseguia fazer esta leitura crítica dos fatos sociais à sua volta. Ele não era alienado. A música sacra era a sua missão, mas isso não excluía o entendimento e a preocupação com as questões, inquietações e o drama da vida.
Veja mais ou menos o que o que Asafe sentia:
Imagine-se “liso, sem dinheiro” e, de repente, você está dentro de um ônibus lotado (desses que se tirar o pé do chão, não tem mais lugar onde colocar) e passa um “pagão” ,que você sabe não ter bons princípios, numa BMW último tipo com os vidros fechados e o ar condicionado ligado...
Bem, é melhor parar de olhar. Sabe por quê? Quando fazemos isso corremos o risco de cobiçar o estilo de vida nababesco de pessoas sem os mesmos absolutos morais, espirituais, etc... que nós temos.
E aí, ficamos iguais ao salmista: meu coração estava cheio de amargura, e eu fiquei revoltado. Ou quando ele diz: - Parece que não adiantou nada eu me conservar puro e ter as mãos limpas de pecado. Que é o mesmo que dizer: Não vale a pena ser honesto! Não existe retorno financeiro para uma pessoa que quer ter um caráter integro.
Então Asafe percebe que seus pensamentos o estavam guiando a um caminho escorregadio; na realidade faltava muito pouco para que abandonasse a fé. A lição que daí extraímos é a de que mesmo os homens mais firmes e ortodoxos podem enfrentar momentos terríveis de conflito filosófico e teológico.
O salmista nos transmite ainda duas lições: a primeira delas é que não devemos nos desesperar quando porventura nos vemos assolados por esse tipo de sentimento em relação à justiça e à bondade de Deus; a outra se refere à necessidade de sermos mais amorosos e compreensivos para com aqueles que são surpreendidos pela dúvida.”
Provavelmente Asafe nem podia comentar suas dúvidas com seus irmãos, pois receava ser julgado como cético e apóstata: - Se eu tivesse falado como os maus, teria traído o teu povo. Então eu me esforcei para entender essas coisas, mas isso era difícil demais para mim. Provavelmente existem muitas pessoas, muitos “Asafes” nesta situação - têm dificuldade de expor esses sentimentos com medo do julgamento de seus irmãos e sofrem calados. Por isso é que acho que este é um salmo especialmente “libertador”.
Asafe estava no “quase” da fé: "quase perdi a confiança em Deus porque fiquei com inveja deles".
Asafe estava no “quase” existencial: "Então eu me esforcei para entender essas coisas, mas isso era difícil demais para mim".
O que aprendemos com Asafe.
Asafe mesmo nos seus “quases” não deixou sua fé.
Foi na ida ao Templo que sua percepção mudou: "Porém, quando fui ao teu Templo, entendi..."
Asafe entendeu: "entendi o que acontecerá no fim com os maus. Quando te levantas Senhor, tu não te lembras dos maus, pois eles são como um sonho que a gente esquece quando acorda de manhã. ... Pois eles são como um sonho que a gente esquece quando acorda de manhã.
O chão não é tão firme como alguns pensam que é. De repente, fica muito escorregadio, a queda é certa. Nem o dinheiro, nem o poder, nem a fama são suficientes para defenderem o perverso diante do AMOR Divino".
Como Asafe finalmente se posicionou?
E enquanto isso, Asafe preferiu estar junto a Deus, com PROSPERIDADE ou NÃO.
“Mas, quanto a mim, como é bom estar perto de Deus! Faço do Senhor Eterno o meu refúgio e anuncio tudo o que ele tem feito”.
Caio Fábio No livro; No Divã com Caio Fábio diz:
“Digo aos “Asafes contemporâneos” o seguinte: a grande manifestação de Deus no tempo presente não é enriquecer o cristão ou empobrecer o incrédulo, mas conservar no caminho que conduz ao verdadeiro e incorruptível tesouro pessoas tão frágeis como eu e você.
Que Deus nos ajude a não ambicionar a prosperidade dos maus, mas a substituir tal perspectiva pelo saudável desejo de lhe sermos fiéis no tempo presente, a fim de recebermos no céu a coroa da vida.”
Por Leonardo Pessoa