Sócrates, Glauco, Adimato e Eu...


A República (Livro VII) de Platão conta o “mito da Caverna” que é a narração de um dialogo de Sócrates com Glauco e Adimato. Neste Platão utilizou a linguagem mítica para mostrar o quanto os cidadãos estavam presos a certas crendices e superstições.

A história narra a vida de três homens que, acorrentados no interior de uma caverna desde sua infância, ficam voltados para o fundo dela apenas podendo contemplar uma réstia de luz que refletia as sombras que eram projetadas no fundo da parede, tendo como realidade, apenas aquela visão. Esse era o seu mundo.

Certo dia, um dos habitantes resolveu voltar-se para o lado de fora da caverna e consegue se libertar, seguindo o caminho de luz que o leva para fora da caverna. Quase ficou cego devido à claridade da luz. E, aos poucos, vislumbrou outro mundo com natureza, cores, “imagens” diferentes do que estava acostumado a ver, contempla então a realidade, o mundo das idéias.

Voltou para a caverna a fim para narrar os fatos aos outros dizendo que as sombras não são tudo que existe. “Mas não acreditaram nele, estavam acostumados às sombras e acreditando que elas são toda a realidade, revoltados com a suposta” mentira” o mataram.

Com essa alegoria, Platão divide o mundo em duas realidades: A sensível (que percebe pelos sentidos) e a Inteligível (o mundo das idéias). O primeiro é o mundo da imperfeição, pelo fato de ser limitado e o segundo encontraria toda a verdade possível para o homem.

Segundo Platão a caverna é o mundo sensível onde vivemos, a réstia de luz que projeta as sombras na parede é um reflexo da luz verdadeira (as idéias) sobre o mundo sensível. Os prisioneiros somos nós, e as sombras são as coisas sensíveis que tomamos pelas verdadeiras. Os grilhões são nossos preconceitos, nossa confiança em nossos sentidos e opiniões. Mostrando a visão de mundo do ignorante, que vive de senso comum, e do filósofo, na sua eterna busca da verdade.

O ser humano deveria procurar o mundo da verdade para que consiga atingir o bem maior para sua vida. Em nossos dias, muitas são as cavernas em que nos envolvemos e pensamos ser a realidade absoluta.

Por muitos anos vivi em uma caverna, mas a culpa não era minha eu nasci lá. Tudo que entendia como vida eram as formas nas sombras das paredes, essa era minha realidade absoluta sobre a vida e sobre Deus. Só me permitia crer no que as sombras conseguiam reproduzir. Lá vivi sob a manipulação dos meios de comunicação, do sistema capitalista e das maldições hereditárias.

Um dia, dois amigos chamados Wagner e Clayton, que nasceram ali na caverna, mas haviam se libertado das correntes e saíram de lá voltaram para contar como era o “mundo” fora da caverna. Contaram que lá tudo era colorido e que não havia penitencias ou maldição alguma, que o capitalismo não impedia que as pessoas ajudassem umas as outras e o pior que havia mais 13 canais na TV aberta além da Globo.

Pedi para que fossem embora e desfrutassem sozinhos daquela que julgava “uma falsa descoberta”. Minha vontade naquele momento era de matá-los. Aquelas informações contrastavam de frente minha zona de conforto. Depois remoendo as idéias notei que realmente havia vivido somente as sombras da vida. Minha vontade era sair logo dali, ver como era realmente o mundo lá fora, foi então que percebi. Estava acorrentado. Chorei, chorei, após a seguinte constatação. Eram 22 anos preso naquela caverna.

Lendo o único livro que se podia possui naquele lugar, uma história me chamou a atenção. Era sobre um homem que há muitos anos atrás havia entrado naquela caverna, e que sua presença iluminava o lugar ele falava com doçura das maravilhas de um mundo fora da caverna, o que confirmava a história contada pelos meus amigos. O livro disse também que os habitantes dali não creram naquele homem e revoltosos o mataram. Mas antes de morrer ele livrou o povo das correntes.

Estranho, eu ainda tinha correntes. Num ato desesperado forcei as trancas elas abriram, estava livre. Tentei virar para a saída da caverna e a luz cegou-me. Era brilho demais para alguém que estava acostumado a sombras. De olhos entreabertos segui o caminho da luz e finalmente sai da caverna. Hoje conceitos como sombras e escuridão são para mim somente conceitos de um passado sem comunhão. Hoje sei que não é a luz a causa das sombras, mas os obstáculos que agora, em mim, não mais existem.

Muitas informações no mito da caverna denunciam a alienação humana, seja ela social política ou religiosa. Criam realidades paralelas e alheias. Até quando alguns escolherão o fundo da caverna?

No que tange a religião, muitas pessoas, como eu, estão tão arraigadas na sua crença que não conseguem perceber o mais importante; a beleza que existe no divino.

Por Leonardo Pessoa