28 anos

Mais um ano de vida, se é possível resumir em uma palavra minhas pretensões para hoje a palavra é reinventar. Palavra complicada para uma pessoa tão cheia de vícios e manias prejudiciais difíceis de serem abandonados como eu.

Reinventar-se pra mim é fazer um auto-retrato e depois ter a coragem de dizer: o jeito que estou vivendo não está bom. Não é tornar-me outra pessoa, mas achar outras características dentro de mim.

Quando percebi que minha espiritualidade não conversava com a minha realidade entrei em crise. Daí a dúvida ou me reinvento para sair da crise ou espero que ela passe. Decidi re-significar minha vida, para isso fui obrigado a também re-significar o que aprendi sobre Deus e suas formas de agir.

Os principais temas que precisei re-significar foram esses: Amor, oração, dúvida, fé, maioria, vontade de Deus e salvação.

Amor
Percebo hoje que amor não é resultado de barganha, posso ser eu mesmo sendo amado do jeito que sou. Se necessitar deixar de ser quem sou para ser amado o que recebo não é amor, o que está sendo amado não é o que sou e sim a imagem do que aparento ser. 

Essa consciência eu tenho hoje não só quando recebo, mais também quando ofereço amor.
Reconheço que Deus não exige nada de mim para me amar, e todo aquele que me exige algo como condição de amor não me ama.

Oração
Orar hoje é reconhecer quem Deus é, desejando orientar minha existência sobre os valores deste Deus. No modelo de oração que Jesus usou não existe pedido de coisas para mim e sim de coisas em mim.

Não oro mais para ter, ou conquistar. Oro para ser, ou tornar-me. Não anseio que minhas orações sejam respondidas, agora quero ser resposta a oração das pessoas.

Dúvida
Durante toda minha vida a dúvida foi meu algoz, hoje a chamo de amiga, parceira de fé. Agora sei que a fé nasce das minhas incertezas. Lembro-me ainda das palavras ditas por Papai, personagem que representa Deus no romance A Cabana de Willian P. Young, “Na casa das certezas não há espaço para a fé”.

Em minha comunidade, ainda sem nome, nos reunidos e debatemos graças à dúvida. Onde existe a certeza não há espaço para o amanhã, para uma nova conversa. A dúvida tem sido o elixir da minha fé.


Geralmente é dito que fé é a certeza, já disse o que penso sobre isso no quesito dúvida. É dito também que fé acreditar em Deus, ou acreditar que Deus pode tudo. Adotei a definição do Rob Bell para o que é fé; “... fé é acreditar que Deus acredita em você.”

Quem me ensinou isso foi o apostolo Pedro quando pediu que Jesus o chamasse para andar sobre as águas. E Jesus o chamou, isto é, pronunciou uma palavra de ordem a seu respeito.
Pedro saiu do barco e caminhou sobre as águas. Mas em dado momento prestou atenção no vento, e duvidou. Começou a afundar e clamou por socorro: “Senhor, salva-me!”

Pedro não duvidou de Jesus e nem de seu poder de salvar. Então, duvidou do quê?
Duvidou de si mesmo. Duvidou de que seria capaz de cumprir a palavra de Jesus pronunciada a seu respeito. Creio hoje que fé é acreditar que Deus acredita em mim.

Maioria
Não quero fazer parte da maioria, não por birra, mas porque estou pensando como o escritor Nelson Rodrigues “Toda unanimidade é burra”. Na bíblia percebo vários exemplos disso; a criação do bezerro de ouro, a decisão de não entrar em Canaã, o apedrejamento de Estevão e de Paulo, a decisão de soltar o preso e crucificar o Cristo, todas essas ações nasceram do voto da maioria.

Serei como os irmãos de Beréia; não seguirei cegamente outra consciência que não seja a minha. Não serei mais guiado pela multidão, o fato de um lugar estar cheio não quer dizer que ele é bom.

Vontade de Deus
Andrés Torres Queiruga resumiu “Deus não faz coisa alguma ao nosso lado para nos completar, ou em nosso lugar, suprimindo-nos, mas faz com que nós façamos, pois sustenta nosso ser e agir. A ação parte da criatura, possibilitada pelo Criador. Assim, quanto mais faz Deus, mais fazem as criaturas, quanto mais as criaturas fazem, mais faz Deus. Onde a criatura falha, Deus também falha, porque desde que nos criou decidiu, livremente, nada fazer sem nosso acolhimento e aceitação”.

Deus age de forma pessoal em todas as situações e circunstâncias da vida de todas as pessoas. Mas não é o culpado de tudo o que acontece. Seja esse tudo o bom ou o ruim. Deus ouve nosso clamor e responde nossas súplicas. Mas não é um ventríloquo e não se relaciona conosco como se fossemos fantoches.

Deus se relaciona conosco respeitando nossas histórias e nossas individualidades.

Salvação
Essa foi a mais difícil reforma em mim. Reconhecer que Deus não está interessado em regatar minha alma. Essa dicotomia entre corpo e alma não é bíblica é filosofia grega. Creio que Deus está interessado em mim como um todo e se importa não só com meu estado de espírito mais com o que eu estou fazendo com o meu corpo, como estou me portando nos meus negócios, na sala de aula etc. Ele quer participar da minha vida em plenitude.

Mudei muito de alguns anos pra cá. Se foi para melhor ainda não sei. Sei que perdi muitas ilusões e utopias, não sou mais religioso. Se isso foi bom não sei, sei é que estou mais feliz.
 
Hoje aos 28 anos entendo o porquê as misericórdias do senhor se renovam na minha vida a cada manhã. (Lm 3:22). A misericórdia de Deus se renova a cada manhã para que eu possa me reinventar todos os dias.

Reinventar-se é se dar uma nova oportunidade, e o mais importante, acreditar em você de novo.

Por Leonardo Pessoa

2 comentários:

Hermínia Nadais 8 de janeiro de 2011 às 18:20  

Este post é algo de bom, de óptimo. Tem uma visão espectacular das coisas. O crescer é assim mesmo, ver o que é melhor e assunir, por pés ao caminho!
Jovem como é... vai muito longe. Deus lhe conceda todas as bençãos.

Leonardo Pessoa 31 de janeiro de 2011 às 02:09  

Muito obrigado pelo comentário, Herminia, pra mim mé muito importante vindo da senhora.

Eu acompanho seu blog sou se fã.

Abs,