QUANDO MORRE ALGUÉM QUE AMAMOS?


Se os autores das novelas e dos filmes não se rendessem somente as grandes obras literárias, bem que poderiam ler a bíblia, e que trama teríamos sobre a história de Davi Bate-Seba e Urias, uma verdadeira lição de vida. Vamos relembrar a história: um rei que vê a mulher do seu amigo tomando banho manda chamá-la e comete adultério com ela. A engravida, depois manda matar o seu esposo, e passado o tempo do luto casa-se com ela. A criança nasce mas muito doente então:
“Davi busca a Deus pela criança; e jejuou Davi, e entrou, e passou a noite prostrado sobre a terra. Então os anciãos da sua casa se levantaram e foram a ele, para o levantar da terra; porém ele não quis, e não comeu pão com eles. E sucedeu que ao sétimo dia morreu a criança; e temiam os servos de Davi dizer-lhe que a criança estava morta, porque diziam: Eis que, sendo a criança ainda viva, lhe falávamos, porém não dava ouvidos à nossa voz; como, pois, lhe diremos que a criança está morta? Porque mais lhe afligiria. Viu, porém, Davi que seus servos falavam baixo, e entendeu Davi que a criança estava morta, pelo que disse Davi a seus servos: Está morta a criança? E eles disseram: Está morta. Então Davi se levantou da terra, e se lavou, e se ungiu, e mudou de roupas, e entrou na casa do SENHOR, e adorou. Então foi à sua casa, e pediu pão; e lhe puseram pão, e comeu. E disseram-lhe seus servos: Que é isto que fizeste? Pela criança viva jejuaste e choraste; porém depois que morreu a criança te levantaste e comeste pão. E disse ele: Vivendo ainda a criança, jejuei e chorei, porque dizia: Quem sabe se DEUS se compadecerá de mim, e viverá a criança? Porém, agora que está morta, porque jejuaria eu? Poderei eu fazê-la voltar? Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim. Então consolou Davi a Bate-Seba, sua mulher,”. (2 Samuel 12.15-24)
A morte de um ente querido - Como superar a dor de uma grande perda? Um dos momentos mais delicados na vida da gente é quando alguém que amamos morre... Quando a perda é inevitável, quando a dor é real e sem saída, quando perdemos e perdemos mesmo... o que fazer para superar a dor da perda? Este final de semana faleceu o pai de um grande amigo e lá diante deste drama da vida comecei a fazer algumas considerações; infelizmente aprendemos mais com a dor do que com a felicidade. A dor nos faz rever os nossos valores, crescer amadurecer e assim valorizamos mais a vida e as relações com as pessoas ao nosso redor. Percebi que diante de uma perda desta significância, temos dois caminhos a seguir. O primeiro é nos afogarmos na dor, guardando eternamente sentimentos de raiva, indignação e culpa, questionando a justiça dos homens e a de Deus. E o segundo caminho nos permite seguir a vida, enfrentando a dor e as etapas seguintes. Embora essa via seja mais dolorosa, é a mais saudável, porque se não expressarmos e vivenciarmos esse momento, certamente o conservaremos dentro de nós (luto crônico) e estaremos, futuramente, vulneráveis aos sofrimentos emocionais e físicos.
A primeira sensação que temos é a de que não se sobrevive à dor da perda, pois ela é muito mais forte do que se pode imaginar. Temos a impressão, às vezes, de que ela nunca irá passar. Toda perda gera um luto e esse processo exige tempo.

Nos preparamos desde cedo para enfrentarmos a competitividade que a vida nos impõe, estudamos, fazemos diversos cursos, aprendemos profissões, aprendemos leis, como lidar com o dinheiro, etc, mas, não aprendemos e raramente alguém se prepara para enfrentar períodos de sofrimentos, dores, perdas, velhice e morte, essas coisas importantes e reais, negamos terminantemente, e quando elas nos sobrevém não sabemos o que fazer, como agir, como enfrentar. É necessário também nos prepararmos para essas realidades. Será que negar, ignorar essas realidades é a melhor forma de lidar com elas? Não nos preparamos psicologicamente, espiritualmente, socialmente para essas realidades é a melhor escolha? É um erro nos prepararmos para essas coisas, isto é sofrer antecipadamente ou minorar os sofrimentos e dores em momentos de crises?
O sofrimento faz parte da nossa humanidade, sofremos de varias maneiras, fisicamente, socialmente, financeiramente, espiritualmente. Passamos por crises, aflições, momentos que somos abalados, afrontados por ventos contrários que veementemente sopram nossas frágeis estruturas. Muitos vergam, caem, levantam e recomeçam tudo de novo. Alguns ficam amargos, deprimidos, quebrados e sem esperança, se tornam arrogantes, afastam-se de Deus e das pessoas, e continuam não valorizando a vida; outros aprendem, ganham experiência, crescem e se tornam mais doce, humildes, se aproximam mais de Deus e do seu próximo, passam a valorizar mais a vida.
Este episódio na vida de Davi nos ajuda a fazer o certo quando tudo dá errado. Vamos analisar como Davi agiu, depois de ter perdido um filho que tanto desejou ver crescer e, quem sabe, se tornar Rei em seu lugar. Como fazer quando quem mais amamos morre?
1° Seja valente!
Davi se levantou da terra! E se lavou, e se ungiu, e mudou de roupas!
Os servos de Davi ficaram com medo de dar a noticia da morte da criança, porque quando ela estava doente ele já estava arrasado não queria comer nem dormir, mas para surpresa de todos quando Davi foi informado da morte da criança se levantou e comeu pão; os seus servos perguntaram: Mas porque o senhor fez isso disseram: quando a criança estava viva você lamentou e chorou agora que a criança morreu você se levantar?
A primeira vista parece muita insensibilidade de um pai não é? Mas observe o que Davi responde: “Vivendo ainda a criança, jejuei e chorei, porque dizia: Quem sabe se DEUS se compadecerá de mim, e viverá a criança? Porém, agora que está morta, porque jejuaria eu? Poderei eu fazê-la voltar? Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim”
Davi estava consciente que não poderia fazer mais nada, estava na hora de seguir a vida. Não podemos permitir que a tristeza nos sufoque. Saiba que: A MORTE NÃO É O FIM, SIMPLISMENTE É O INICIO DE UMA VIDA SEM A PESSOA QUE PERDEMOS!
2° Fique firme e creia que dias melhores virão!
Console e ampare quem sofre tanto ou mais que você! “Então consolou Davi a Bate-Seba, sua mulher” Faz muito bem à família e aos amigos conversarem sobre a pessoa que morreu, olhar fotografias e chorar por sentir saudade. Na medida em que há diálogo, vamos nos transformando e ganhando força para retomar o dia-a-dia.
Mesmo para as pessoas que hoje vivenciam uma doença na família, não se pode afastar a realidade da perda gradual. É válido procurar viver ao máximo cada momento, resolver as questões pendentes, agradecer, perdoar e ser perdoado, falar de sentimentos e até da saudade que sentirá. Um tempo necessário, que não é permitido para as pessoas vítimas da violência. Quando a morte é súbita e inesperada, a dor é infinitamente maior e a elaboração da perda é lenta e sofrida. No entanto, a dor é a mesma quando se perde alguém importante na vida.
Mas a vida continua. Devemos desenvolver a capacidade de enfrentar momentos difíceis e de nos ajustarmos às situações de perda, que acontecem na vida. O restabelecimento emocional é importante para seguirmos adiante, até porque a distância física não é o fator determinante, que irá romper os laços afetivos.
Despedir-se não é pôr um fim a uma história, é encontrar um lugar para a pessoa que perdemos no cantinho da saudade e das lembranças boas. Daí, seremos capazes de reinvestir nosso amor e esperança nas pessoas que ficaram e que, certamente, precisam muito de nós.

Por que as pessoas morrem? Não será porque morrer faz parte da vida?
Você já assistiu o filme O HOMEM BICENTENÁRIO? Se não, vale apena ver; embora eu vá contar o final dele agora.
Este filme conta a história de um robô que lutou por duzentos anos para ser reconhecido como parte da humanidade. Até certo ponto do filme ele já amava, ficava triste, tinha um corpo com todas as funções biológicas de um humano, tinha amigos, uma namorada… O que o separava da humanidade?
Ele não podia morrer. Então um dia ele programou seu próprio corpo para começar a se deteriorar aos poucos. Ele sabia que teria somente mais uns 40 anos de vida, se ele se exercitasse e cuidasse da alimentação direito, mas preferiu morrer como um homem de duzentos anos do que viver para sempre como um robô.
A MORTE FAZ PARTE DA VIDA! SOMOS SERES FINITOS; E POR QUE SOMOS SERES FINITOS DEVEMOS BUSCAR AQUILO QUE É ETERNO.
Naquele velório, quando ouvi cada palavra mencionada pelos familiares, percebi que embora sejamos seres finitos nossas ações se eternizam na vida das pessoas, cada gesto de afeto é comentado, cada história é lembrada; e os que ficam se agarram nisto, como meio de suportar a grande dor da perda.
Ficar firme é não desfalecer diante do sofrimento, não colocando os nossos olhos somente nas coisas visíveis e passageiras que o sofrimento reclama, mas é permanecer em pé olhando as realidades eternas.
“Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente. Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas”. (II Coríntios 4.16-18).
Por Leonardo Pessoa